Preciso de recuar para abordar o seguimento da nossa história. Durante os nossos anos na rue do Bac, conhecemos progressivamente um certo bem-estar material. Mas nunca elevámos o nosso nível de vida e de consumo ao nível do nosso poder de compra. Havia entre nós um acordo tácito a esse respeito. Tínhamos os mesmos valores, quero dizer, uma mesma concepção daquilo que dá à vida um sentido, ou ameaça tirar-lho. Tanto quanto consigo lembrar-me, sempre detestei o estilo de vida dito «opulento» e seus desperdícios. Tu recusavas seguir a moda e julgava-la segundo os teus próprios critérios. Recusavas-te a permitir que a publicidade e o marketing te dessem necessidades que não sentias. Durante as férias, alojávamo-nos «em casa do habitante», em Espanha, ou em estalagens ou pensões modestas, em Itália. Foi em 1968 que, pela primeira vez, fomos para um grande hotel moderno, em Pugnochiuso. Acabámos por adquirir, ao fim de dez anos, um Austin velho. O que não nos impediu, porém, de continuar a considerar a motorização individual como uma escolha política execrável, que põe as pessoas umas contra as outras, na pretensão de lhes oferecer o meio de se livrarem de um destino comum.