estadia breve por Moçambique

alex 10th June 2024 at 9:27pm

[later on I might add some words in English for the sake of accessibility; in any case, this is nothing but a quick draft;]

Fiquei com a sensação de ser este um ano especial para ter em conta o conceito de lusofonia, diáspora, a língua comum. Vim de Madrid impressionado por uma nova amiga espanhola que havia passado temporadas no Brasil e em Moçambique; falava português do Brasil — uma curiosa combinação, dado que estávamos bem mais perto, aqui ao lado — e, juntamente com o Zeca, o Zé Mário, outros que sabe sempre bem recordar por altura do 25 de Abril, recuperei também algumas memórias minhas do Buarque, e de outras palavras que consigo compreender porque é afinal é tudo português. É uma comunidade que está em perpétuo estado de potência e que, por motivos vários, nunca soubemos bem remediar em algo uno.

Por sorte, pude passar alguns dias em Moçambique; sediado em Maputo, confrontava a ideia romântica de uma Lourenço Marques que existe ainda a espaços - ainda há, nas tampas do saneamento, várias referências ao seu antigo nome, e muito do panorama arquitectónico é ainda tremendamente reconhecível - com a realidade de uma cidade que é agora uma metrópole, espraiando-se nas redondezas sem lei que se lhe reconheça; e depois, o resto do país, que não ouso sequer sugerir tê-lo conhecido. Moçambique é uma realidade enorme que agora conto no meu mapa; para voltar em breve?

As desigualdades são tremendas e é difícil uma compreensão abrangente. A simpatia é geral — muitos sorrisos, muita música, a lassa desordem em vez do frenesi europeu e urbano (e vim no Inverno, que se compara ao que são para nós bons dias de Primavera); mas muito lixo, desperdício, gente que faz do lixo a fonte que não lhe provém de outra forma. Grassa a corrupção; se não se nota no quotidiano citadino de Maputo (provavelmente porque dependi pouco de serviços), é outra história quando se fala de autoridades policiais. As tentativas de extorsão são comuns. O comércio na cidade parece ser muito básico e simples; e isto não é mau, e é claro que não é tão simples quanto parece; tento evitar a postura de pensar soluções para problemas e realidades que me são muito alheias.

Não é um meio no qual seja fácil encontrar orientação sem alguém local (se calhar, em nenhum lado; mas os arredores de Londres são mais inteligíveis que os de Maputo, diria). Também tive sorte; há personagens fascinantes, como em todo o lado, mas a liberdade em Moçambique é uma que dialoga necessariamente com a natureza; pouco há de selva urbana. Os animais são reais e manifestam-se; a caça, se para uns é desporto, para outros é uma forma de vida.